Quem vê Richard Rasmussen, 39, segurando na jiboia ou se atracando com macaquinhos em seu quadro na rede Record é capaz de achar que se trata do próprio Mogli, uma criança perdida na selva quando bebê, criada por lobos e tendo o urso Balu como melhor amigo.
Quem vê "o Richard", como ele é conhecido, atolando no Pantanal ou rastejando na Amazônia nem imagina que há coisa de uma década esse Mogli de 1,86 m e 103 quilos vivia o oposto do sonho verde: era auditor formado em economia e prestava serviços para grandes empresas na área de impostos e fraudes internos. "Podia ganhar mais antes, mas sou imensamente mais feliz agora", fala.
O curioso é que agora --depois que largou a auditoria, que foi estudar biologia e que está há quatro anos com o quadro "Selvagem ao Extremo" em cartaz no "Domingo Espetacular (o "Fantástico" da Record, que vai ao ar das 18h15 às 22h)--, ele voltou a usar as chatas lições de economia. Neste fim de semana, ele está lançando os três primeiros discos de uma coleção de 12, nove sobre a fauna brasileira e três com reportagens no exterior.
Em abril, chega às bancas um álbum de figurinhas com suas aventuras animais pelo Brasil. Tudo com fotografias tiradas por sua mulher, Sabrina M. Rasmussen, 28, que o acompanha nas viagens --além de dois técnicos polivalentes e sem frescura, que aceitem dormir no molhado e almoçar larva de besouro crua.
Ainda neste semestre, uma empresa lança goma de mascar e suco de uva com a cara do Mogli da Record. "Para os chicletes, exigi um alerta ensinando a criança a jogar no lixo depois de mascar. Muitos passarinhos morrem nas cidades ao engolir chicletes jogados no chão", ensina o homem-lobo Richard. E tem mais: cadernos escolares e um livro com os encontros inesquecíveis que teve com bichos estão por vir.
O sapo e os jabutis
Richard começou sua relação com as feras no início da década, quando comprou uma propriedade na Granja Viana e encontrou dois jabutis. Ao regularizá-los, foi se inteirando da lei dos animais e acabou como depositário oficial, recebendo bichos recolhidos pelo Ibama.
Em 2002, ele chegou à TV. Fausto Silva precisava de um sapo para que uma moça beijasse. O amor da moça transformou o sapo no sertanejo Leonardo, mas antes disso Richard foi convocado para segurar o anfíbio repulsivo.
Logo frequentava várias emissoras, mas não emplacava em nenhuma. Até que a Record resolveu testá-lo numa viagem, nos moldes dos canais pagos Animal Planet e Discovery Channel. Deu certo.
Nos quatro anos em que apresenta "Selvagem ao Extremo" --atualmente com narração de Paulo Henrique Amorim--, Richard demonstrou facilidade com os bichos e com a câmera. E acerta o alvo ao investir em algumas particularidades, em vez de apenas copiar os estrangeiros. Uma dessas singularidades, a mais óbvia, é que "Selvagem ao Extremo" mostra aos brasileiros a fauna brasileira. Mas há outras: com três filhos, de 14, 13 e oito anos, ele foca muito do programa para crianças e adolescentes.
É para eles também que Richard dirige seu site, onde o internauta não vai poder comprar nenhum dos produtos desse nascente império Richard, mas vai encontrar, por exemplo, um dicionário com centenas de animais que inclui curiosidades, mapas e vídeos de cada um deles.
É pelas crianças também que o apresentador adora fazer papel de palhaço, afundando na lama, tropeçando e recebendo dentadas. "Essas coisas acontecem mais do que eu gostaria e menos do que as câmeras conseguem mostrar", filosofa.
Sangue na selva
Richard não gosta de exibir sangue no programa, o que não significa que ele não ocorra de vez em quando. Numa viagem que fez ao Pantanal, por exemplo, arrumou uma confusão dos diabos com um tamanduá local.
"O maior acidente que já tive, na verdade. E foi com um tamanduá-bandeira, que não tem nem dente. Ele estava tranquilinho, e eu tentei tocar na sua testa. Ele levantou a garra, que entrou no tendão próximo ao meu pulso. O sangue esguichava e o hospital mais próximo ficava a cinco horas."
Richard sobreviveu --ao contrário do caçador de crocodilos australiano Steve Irwin, que foi morto por uma arraia (outro bicho pouco agressivo) há dois anos e meio. "Não penso nesse assunto [da morte de Steve Irwin]. Ninguém que trabalha nesse ramo pensa", segreda.
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