segunda-feira, 4 de maio de 2009

Britto Jr.: “As pessoas tentam vincular a Record à religião, mas estão absolutamente enganadas."

Na carteira de identidade, ele é apenas Hilton Antônio Mendonça Britto Júnior, 46 anos, nascido em Caxias do Sul (RS). Para a maioria dos brasileiros, é Britto Jr., jornalista do Hoje em Dia, que consegue imprimir credibilidade em tudo que fala. Mas, na Record, ele é simplesmente a grande aposta da emissora no reality show Fazenda das Celebridades, que deve estrear em junho com a missão de alavancar a audiência e gerar maior faturamento ao departamento comercial da emissora.

Em entrevista a O Fuxico, o jornalista confirmou que, após três anos e meio, deixará o Hoje em Dia para se dedicar à apresentação da nova atração e à observação da rotina de 14 celebridades, todas confinadas em uma fazenda do interior de São Paulo. Durante a conversa, Britto declarou que não sente saudade da Globo e que não assiste ao Big Brother Brasil. O jornalista disse ainda que não tem medo de ser comparado a Pedro Bial, que comanda o reality show global.

O Fuxico: A Record cogitou outros apresentadores para o Fazenda das Celebridades, com receio de que você não quisesse associar seu nome a um reality show. O que o fez aceitar o convite de virar um entertainer?
Britto Jr.: Na minha vida, sempre aceitei desafios. Ser convidado para fazer este reality show foi a cerejinha que faltava no meu sundae. Já faço o papel de entertainer no Hoje Em Dia e me considero um cara versátil. Não quero ser só jornalista. Eles precisavam de alguém com a capacidade de unir o entretenimento e a credibilidade de jornalista. E eu faço a junção dessas duas coisas.

OF: O que pode adiantar do que vem aí no Fazenda? Os nomes dos participantes já foram fechados?
BJ: Eu ainda não me envolvi completamente na produção do programa. Sei que, um pouco antes da estreia, vou ficar só por conta disso. Será um programa diário, com 12 ou 14 personalidades. Vou apresentar, conversar com eles, com o público. Também vou ter de viajar bastante e talvez dormir no interior, onde as gravações serão feitas. O programa deve durar uns três meses e isso vai me exigir muito. Por isso, precisarei me afastar do Hoje em Dia.

OF: E não tem medo de ser comparado ao Pedro Bial, hoje peça fundamental do BBB?
BJ: Não tenho medo algum. Já aconteceu isso. Até falaram que a Record estaria me preparando para ser o próximo Pedro Bial. Só que não me incomodo, porque estou sendo comparado com um cara do qual sou fã. Ele é um dos maiores repórteres da televisão brasileira e, sem dúvida alguma, é o maior que já passou pela Globo.

OF: Mas, não houve um receio de colocar a perder mais de 20 anos de credibilidade conquistada graças ao jornalismo, mudando para o reality show?
BJ.: Não. Eu sempre fui ousado nessas questões. Vou explicar melhor: já fiz várias coisas que poderiam ser classificadas como mico, como apresentar matérias no Faustão. Só que, no meu caso, ajudaram a construir uma carreira de comunicador, o que sempre sonhei ser. Eu não aguentava mais a vida de repórter. Estava cansado porque, depois de algum tempo, tudo fica muito repetitivo. Quando é assim, a gente precisa de novos desafios e, no meu caso, ele apareceu com o convite da Record, em 2005, para fazer o Hoje Em Dia.

OF: Enquanto estava na Globo, você apresentou um projeto de programa semelhante ao Hoje Em Dia, que foi engavetado. Hoje, sente um gostinho de vingança com o sucesso do programa na Record?
BJ: É verdade. Há vários anos, apresentei à direção da Globo um projeto bem parecido com o Hoje Em Dia. Fizeram muitos elogios, mas disseram que não tinham espaço na grade. Sempre, de várias formas, manifestei meu desejo de crescer, só que nunca consegui isso na Globo. Falo com toda a sinceridade que o que tenho não é gosto de vingança. Mas, tenho prazer de saber que oferecemos concorrência para uma emissora que estava acostumada ao primeiro lugar. De repente, tiveram de lidar com um programa que competia e compete de igual para igual, durante as manhãs. Paralelo a isso, existe a satisfação pessoal de mostrar que eu tinha talento para crescer lá dentro. É difícil para uma TV Globo perceber que um simples repórter tenha condições de ser e fazer bem mais.

OF: Não sente nenhuma saudade do tempo de repórter lá dentro?
BJ: Não. Foram 23 anos trabalhando no mesmo regime e formato. A minha valorização na Record foi uma maneira de mostrar para eles o caminho do reconhecimento de pessoas que consideram menores. Eles precisam perceber que tem gente pequena lá, que pode fazer mais. Eu não tenho a menor dúvida de que estão reconhecendo minhas habilidades agora.

OF: Querendo ou não, você é cria da Globo, casa em que ficou por 23 anos. Houve uma tentativa da emissora de resgatá-lo da concorrência?
BJ: Foi uma sondagem apenas. Não houve nada formal. Há um ano, a Globo veio até mim, querendo sentir se, de repente, eu poderia voltar. Mas, naquele momento, nem deixei que essa conversa evoluísse, porque notei que o interesse era me levar de volta para o jornalismo da emissora. Lá, eu não teria essa versatilidade que tenho nos programas da Record, de poder brincar com o público. A não ser que fosse algo similar ao que faço hoje.

OF: Estamos falando de Globo e é inevitável mencionar que você acabou migrando, não só para a concorrência, como para a emissora do Bispo Edir Macedo, eterno desafeto de sua ex-casa…
BJ: Com quase quatro anos de Record, eu só consegui ver o bispo Edir Macedo uma vez, na época do lançamento da Record News. As pessoas tentam vincular a Record à religião, mas estão absolutamente enganadas. Ele não tem nenhuma interferência no conteúdo da emissora. Nunca ninguém disse ‘Britto, dá essa notícia ou não fale isso’. Nunca senti qualquer espécie de censura na Record. E se a Globo usa o fato de ele ser dono da emissora como algo ruim, é um ledo engano. Nosso mercado de televisão é muito pequeno, com seis emissoras abertas, em rede nacional. E todo mundo tem seu telhado de vidro. Ninguém está imune às críticas.

OF: Por falar em críticas, vez ou outra a mídia publica possíveis atritos entre você, Ana Hickmann e outros apresentadores do Hoje Em Dia…
BJ: É tudo invenção. Eu até entendo que essas notícias saiam, porque o pessoal que mexe com essa coisa de fofoca precisa desse tipo de combustível para vender. Acabam pegando um frase isolada e transformando em meia-verdade. Não há como evitar que isso aconteça. O mundo das celebridades vive disso. Já inventaram tanta cosia. Mas, o que existe é o estresse natural. Afinal, são quase quatro anos de convivência diária. Existem momentos em que, a portas fechadas, discutimos sobre vários assuntos, faz parte do jogo. Mas, não é briga. A relação que temos é de família.

OF: Várias emissoras tentaram lançar programas semelhantes ao que você e sua ‘família’ da Record produzem no Hoje Em Dia, sem sucesso. O que elas estão fazendo errado?
BJ: Quando o Hoje Em Dia começou, era apenas uma aposta. Hoje, se tornou referência. Veja o caso do Olha Você, do SBT. Eles tentaram copiar o nosso formato, mas não deu certo, até já saiu do ar. E o problema é justamente esse: a cópia. É preciso criar, se inspirar, e não copiar! As emissoras precisam entender que tem que se ter a sorte de pegar pessoas que se dão bem e não vão colocar a vaidade à frente de tudo. O fundamental é a química. E, pelo que vi e li, o Olha Você trocou de apresentadores várias vezes, o que, para o público, gera desconfiança. Quando o público não se identifica, perde-se toda a força, não importando o investimento que se faça.

OF: Britto, muito obrigada pela entrevista. Gostaria de finalizar falando de seu filho. Foi ele que o encarajou a mudar radicamente sua carreira?
BJ: Eu tenho o Arthur, meu filho de quatro anos. Definitivamente, ele me ajudou a trocar a garantia de um emprego de 23 anos na Globo pela aventura da Record. Quando recebi a proposta de vir para cá (Hoje Em Dia), me ofereceram quatro anos de contrato e meu filho tinha apenas alguns meses. Pensei: será que não vou colocar em risco a segurança da minha família? Se o programa não der certo, o que vai acontecer com minha carreira? Mas, eu não poderia deixar essa chance passar porque, depois, ela poderia não aparecer mais. O mercado entende mal um ‘não’. E eu preferi arriscar. Encontrei aqui o meu sapatinho de cristal. Minha qualidade de vida, que sempre foi boa, melhorou. Agora, tenho horário fixo, com finais de semana e feriado. Tenho mais tempo para me dedicar à minha família.

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