A Rede Record decidiu novamente ‘voar mais alto’ e coloca no ar, a partir de segunda-feira, com ‘A Lei e o Crime’, o chamado ‘povão brasileiro’. O polémico seriado, que relembra a saudosa ‘Vidas Opostas’ devido a seu estilo, volta a analisar, nas palavras de Marcílio Moraes, “instituições como polícia e criminalidade, tão presentes no cotidiano brasileiro” e, por isso mesmo, promete ser “páreo duro” a ‘Maysa’.
Semelhanças entre formatos da teledramaturgia brasileira sempre serão freqüentes. Mas desmistificar estas idéias, em uma imprensa brasileira que se preocupa mais com as “aparências, do que com essências”, é o objetivo primordial a que Marcílio Moraes se propõe com ‘A Lei e o Crime’. O autor, que também assinou na Record a saudosa ‘Vidas Opostas’ e ‘Essas Mulheres’, tem absoluta certeza de que o “filão dramático aberto por ‘Vidas Opostas’ é extraordinariamente rico e está longe de se esgotar, simplesmente porque tem suas raízes no povo e não em representações bem comportadas e hipócritas da classe média”.
A oportunidade de trabalhar em um ritmo mais intenso, desenvolvendo histórias completas em diferentes episódios, aliado ao fato de ser crucial discutir as relações entre ‘a lei e o crime’ deram certezas a Marcílio Moraes na hora de apresentar o projeto à direção da emissora. Em sua opinião, a dramaturgia que tem efetuado é bastante diferente “da dramaturgia de chavões e truques tão em moda hoje em dia [até porque] criar um super vilão ou vilã, que pratica as maldades mais alucinadas, é o recurso mais velho e batido do melodrama e do folhetim ao longo dos séculos”.
A análise crítica da polícia e da criminalidade brasileiras, as supostas parecenças com ‘Vidas Opostas’, os diferentes pontos de vista acerca da teledramaturgia atual, a generalização da violência na televisão brasileira, a postura anti-‘Tropa de Elite’ e a concorrência com a Globo, especialmente, com a minissérie ‘Maysa’ são alguns assuntos problemáticos que Marcílio Moraes, autor de ‘A Lei e o Crime’, fez questão de esclarecer quando confrontado com as perguntas de Bruno Cardoso, com exclusividade para o NaTelinha. O resultado você confere a partir de agora.
De algum modo, o fato de você repetir elementos que deram certo com ‘Vidas Opostas’ te anima para enveredar novamente pela temática da criminalidade e da polícia brasileira?
Marcílio Moraes: O filão dramático aberto por “Vidas Opostas” é extraordinariamente rico e está longe de se esgotar, simplesmente porque tem suas raízes no povo e não em representações bem comportadas e hipócritas da classe média, como tem sido a norma ultimamente na teledramaturgia. O que me dá segurança é a certeza de estar dialogando com o brasileiro das ruas, com as pessoas de carne e osso.
Como surgiu a necessidade de 'remexer' com instituições (polícia e criminalidade) tão presentes no cotidiano dos brasileiros? O projeto inicial de ‘A Lei e o Crime’, que propôs à Record, é o mesmo que os telespectadores vão poder conferir em breve?
MM: Eu não chamaria de remexer com instituições como a polícia e a criminalidade, mas sim como necessidade de analisar estes setores, como você próprio disse, tão presentes no cotidiano brasileiro, com olhar crítico. De início pensei em fazer alguma coisa como uma continuação de “Vidas Opostas”, mas na hora de escrever, vi que não tinha sentido e parti para uma história nova. Desta forma, o projeto que apresentei é exatamente aquele que vai ao ar no dia 5 de janeiro.
Coloquemos lado a lado a novela ‘Vidas Opostas’ e a série ‘A Lei e o Crime’. O que muda em termos de concepção e de execução em ambos os projetos?
MM: A única semelhança entre os dois projetos é parte da ambiência: corrupção policial, tráfico, etc. No mais, são inteiramente diferentes, a começar pelo formato. O seriado exige uma dramaturgia de certo modo contrária à da novela. Enquanto esta se caracteriza pela prolixidade, o seriado é seco e conciso. “Vidas Opostas” era uma história que se construía em torno de um caso de amor; a trama de “A Lei e o Crime” se desenvolve a partir de dois assassinatos.
É mais difícil criar uma trama como ‘Vidas Opostas’, repleta de temas complexos e desconhecidos da televisão em geral, ou lidar, com ‘A Lei e o Crime’, com a sensação de 'dejá vú' que tem impregnado a mídia brasileira em geral?
MM: Acho muito positivo que haja uma preocupação com o “dèja vu” na nossa imprensa. Porque o grau de repetição, de mesmice, de lugar-comum na teledramaturgia brasileira nos últimos anos tem sido insuportável. A fuga da audiência é um sinal. Não é o caso das minhas últimas novelas e do seriado. Tanto uma novela como “Vidas Opostas” quanto um seriado como “A Lei e o Crime” oferecem grandes dificuldades. Mas são dificuldades diferentes. Em “Vidas” tive mais oportunidade de trabalhar os personagens, pude mesmo criar o que chamo de “personagem povo”, que era a comunidade do Torto, etc, porque a novela é diária, extensa, permite que cada situação seja desenvolvida com mais detalhes. Já o seriado, sendo semanal, exige uma história completa em cada episódio, além das tramas fixas que se desdobram durante toda a temporada. Então o ritmo tem que ser intenso, não há tempo para respirar, a ação é contínua sem espaços para muitas explicações e devaneios. Além disso, “A Lei e o Crime” discute uma questão que precisa estar presente em todos os episódios: as relações entre a lei e o crime.
Poderia explicar quais serão esses 'conflitos humanos' que movimentarão a história do seu seriado?
MM: O que eu quis acentuar ao me referir a “conflitos humanos” foi a diferença entre a dramaturgia que faço, baseada em conflitos reais entre os personagens, da dramaturgia de chavões e truques tão em moda hoje em dia. Por exemplo, criar um super vilão ou vilã, que pratica as maldades mais alucinadas, é o recurso mais velho e batido do melodrama e do folhetim ao longo dos séculos. (E ainda tem gente que diz que é uma novidade). Eu não trabalho com essa dramaturgia de vilões e mocinhos. A história do meu seriado se inicia num conflito estritamente familiar: um genro humilhado mata o sogro e é jurado de morte pelo cunhado. Este conflito humano mas insuperável, no qual todas as partes têm razão, é a força motriz do enredo. Ninguém é monstro, ninguém é santo. São seres humanos movidos pelos seus sentimentos e agindo de acordo com os costumes da sociedade em que vivem.
Estes conflitos humanos que envolvem a delegada Catarina, o traficante Nando e o policial miliciano Romero, foram desenvolvidos para demonstrar que muitas vezes as barreiras entre a lei e a criminalidade são mesmo ténues?
MM: Não houve um plano meu a priori ou uma tese a partir da qual desenvolvi a história. Pelo contrário. Comecei a escrever o que de início seria um especial sem saber onde a história me levaria. Deixei os personagens se desenvolverem, os conflitos se acirrarem e a trama me levou às fronteiras entre a lei e a criminalidade. Só então eu formulei os conceitos e os princípios que norteariam o seriado.
Você teme causar alguma polêmica ao representar, na história, um policial corrupto, preconceituoso e defensor das milícias?
MM: Eu não chamaria de temor e sim de esperança a expectativa de que meu seriado provoque polêmicas, não apenas em relação às milícias, mas também no que diz respeito ao combate às drogas, organização policial, costumes políticos, etc.
Continua na postagem acima...
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