domingo, 4 de janeiro de 2009
Continuação da entrevista com Marcílio Moraes
Percebi que foi uma das suas preocupações escalar atores - Heitor Martinez, Raquel Nunes -, para papéis distintos aos interpretados em ‘Vidas Opostas’. Com o Ângelo Paes Leme tal não foi possível. Você teme que o público confunda o personagem dele com o 'Jefferson'?
Marcílio Moraes: O espectador sabe perfeitamente distinguir a realidade da ficção. Não confunde de verdade o ator com o personagem. Todo mundo vai saber que “A Lei e o Crime” conta uma história totalmente diferente de “Vidas Opostas”, que os personagens são outros.
E regravarem na mesma comunidade que já acolheu gravações de sua novela e de ‘Os Mutantes’?
MM: “A Lei e o Crime” nada tem a ver com Os Mutantes. A gravação na mesma comunidade é uma contingência da realidade. A Tavares Bastos é a única favela onde se podem gravar cenas de televisão ou filme. O espectador se liga na história antes de tudo, não nos lugares. Senão não se poderiam mais gravar novelas no Rio de Janeiro. Centenas delas já mostraram as mesmas paisagens. Algumas tinham boas histórias, outras, abacaxis sem sentido e sem graça.
Você teme que, com ‘A Lei e o Crime’, o público e os críticos em geral fiquem plenamente convictos de que muita da violência mostrada, ultimamente na Record, é gratuita e geradora de mais uns meros pontos no Ibope? Qual a sua opinião, especificamente, sobre este assunto?
MM: Há que diferençar a aparência da essência. Se você acompanhar as novelas da TV Globo ao longo dos anos vai ver sempre as mesmas caras, os mesmos cenários, os mesmos
enquadramentos, os mesmos gestos, as mesmas situações, as
mesmas falas, etc, e pode chegar à conclusão de que é sempre a mesma história repetida ad nauseam. No entanto, se analisar com mais cuidado, vai ver as diferenças, que estão na essência, ou seja, no texto, na dramaturgia. Há novelas boas, de qualidade, e há as porcarias. O mesmo se pode dizer da temática da violência, das sequências de ação, etc. Há que perceber a dramaturgia por baixo dos tiros e das sirenes. Este é o papel da imprensa e da crítica, que frequentemente se perdem nas aparências.
Foi proposital a contratação dos atores Caio Junqueira e André Ramiro, ambos do elenco de 'Tropa de Elite'?
MM: Nenhum ator foi escalado por qualquer razão externa ao seu talento. O Caio e o Ramiro são grandes atores. No filme, tiveram oportunidade de expor sua competência. Por sorte nossa, estavam disponíveis para fazer o seriado. Sobre “Tropa de Elite” quero deixar claro que, apesar de admirar a qualidade do filme, discordo radicalmente dos conceitos e da dramaturgia com que foi elaborado. Ali se procurou a identificação do espectador com a violência. O que “ A Lei e o Crime” vai buscar é uma postura crítica do público. De certa forma, como já disse em outra ocasião, “A Lei e o Crime” é o anti-Tropa de Elite.
Tirando a experiência de 'Avassaladoras' esse é um formato novo desde a abertura da teledramaturgia da Record, em 2004. Você acha que essa série é o diferencial que a emissora necessitava para 'voar' novamente?
MM: Ao longo de décadas, o monopólio da TV Globo viciou a teledramaturgia brasileira com o formato novela, o que foi ruim para todo mundo, artistas e público. Sendo assim, arriscar em novos formatos na TV aberta, como um seriado dramático, é uma ousadia digna de reconhecimento, que deve ser creditada à Record. Não posso afirmar que “A Lei e o Crime” vai ser um diferencial, isso só o público tem o poder de determinar. Apenas garanto a qualidade da dramaturgia e da execução.
Por que a decisão de gravarem a série em HD e somente com uma câmara?
MM: Procurou-se fazer um produto nos padrões internacionais. Esse tipo de câmera é uma exigência básica nestes parâmetros. Gravar com uma só câmera foi uma opção do diretor, Alexandre Avancini, para buscar uma qualidade estética semelhante à do cinema.
Existe a real possibilidade de, caso esses primeiros 16 episódios tenham todo o sucesso que vocês esperam, existir uma 2ª temporada de ‘A Lei e o Crime’?
MM: Uma segunda temporada não está em cogitação no momento. É uma hipótese remota. Mesmo se fizer sucesso, eu terei de avaliar se, do ponto de vista da dramaturgia, será interessante ou mesmo possível dar continuidade à história. Minha combinação com a Record era fazer uma novela em 2009. Mas as circunstâncias se modificam. Não há nada definido por enquanto.
Enquanto autor de mais um produto inovador, você teme entrar no ar exatamente no mesmo dia e horário que a série ‘Maysa’, escrita pelo Manoel Carlos?
MM: Não tenho nenhum temor de concorrer com qualquer produto que seja. O Manoel Carlos é um grande dramaturgo, a quem admiro e respeito. E vai tratar de uma cantora excepcional, um ícone da classe média alta brasileira. “A Lei e o Crime” tem uma temática rude. Os programas são muito diferentes. Acredito que haverá público para os dois.
A sua série tem potencial para desbancar o produto da Globo?
MM: Minha série tem uma história forte, cativante e, modéstia à parte, muito bem desenvolvida. Trata de temas que interessam a todos e possui apelo popular. Está sendo gravada com grande competência pelo diretor, pelo elenco e pelo corpo técnico. Se vai desbancar algum produto da concorrência não sei. Mas garanto que vai ser páreo duro.
Primeira parte da entrevista logo abaixo.
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