Entra no ar hoje, às 23h15, na Record, mais um produto derivado da onda "favela movie". Com um investimento alto para os padrões brasileiros, de R$ 500 mil para cada um de seus 16 episódios semanais --em média, o dobro do custo de um capítulo de novela na Globo--, o seriado "A Lei e o Crime", de Moraes, leva de novo os holofotes da TV a morros cariocas.
"A televisão teve de romper com a antiga estética global, em que era inconcebível mostrar a favela da forma realista. Quando aparecia, a periferia vinha com assepsia, clarinha, bonitinha", afirma o escritor.
Mas foi exatamente a Globo a primeira a "aprender a fazer pobre" na dramaturgia. A rede levou ao ar em 2000 o especial "Palace 2", de Fernando Meirelles, que serviu de teste para "Cidade de Deus", indicado a quatro Oscars.
Depois veiculou um "filhote" do filme, a série "Cidade dos Homens", sobre a vida de dois garotos da favela carioca. Exibiu ainda "Antônia", também da produtora de Meirelles, a O2, com mulheres negras da periferia paulistana como protagonistas, e "O Paí, Ó", com personagens do cortiço do Pelourinho, em Salvador.
À Folha, em 2008, Meirelles falou sobre a tendência. "Antes havia o chavão de que "pobre não gosta de ver pobre". "Cidade de Deus" fez grande bilheteria, "Carandiru" o superou, "Tropa de Elite" virou esse fenômeno. Aí, caiu a ficha, né, "poin'!"
Enquanto na Globo a periferia era "experimentada" nos seriados, a Record e Marcílio Moraes foram pioneiros em colocar a favela no centro de uma telenovela --o que a Globo fez depois, com "Duas Caras". "Vidas Opostas" (2006/07), primeira trama do autor na Record, foi gravada em uma favela, a Tavares Bastos, e teve sucesso no Ibope ao mostrar cenas -especialmente as violentas- do cotidiano dos morros.
"Está havendo uma maior inserção das classes C,D e E no consumo. Como a TV é movida por publicidade, isso passou a influenciar empresários das redes, que se abriram a obras que mostrem a periferia", analisa.
Moraes e o diretor Alexandre Avancini voltam à Tavares Bastos no primeiro seriado da nova fase da dramaturgia na Record. "A Lei e o Crime" não só deriva do "favela movie" como segue a tendência de investimento em policiais, na rabeira do fenômeno "Tropa de Elite" --fora "9MM", exibido pela Fox, sobre a polícia de São Paulo, a Globo também tem um projeto nessa linha.
Um dos protagonistas de "A Lei e o Crime" é um policial interpretado por Caio Junqueira, astro de "Tropa de Elite". Ele quer se vingar do cunhado (Ângelo Paes Leme), que matou seu pai e virou traficante.
"O que quero mostrar agora é essa fronteira pouco clara entre a lei e o crime, que nos morros existem várias "leis" a partir da ausência da lei do Estado."
Moraes diz que sua série não é filhote de "Tropa" --cuja adaptação para uma série é o "sonho de consumo" da Globo e da Record. "No filme, o espectador se identifica com o capitão Nascimento e, logo, com a postura de que "bandido bom é bandido morto". Estou criando a história para que o público não se identifique nem com o traficante nem com o policial vingativo. Quero que sejam vistos de forma crítica."
Resta saber, a partir de hoje, se "A Lei..." dará ou não argumentos para José Padilha, diretor de "Tropa", rebatê-lo.
Fonte: Folha Onlie.
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